I implore your attention. It is all over with me. I can support this state no longer. To-day I was sitting by Charlotte. She was playing upon her piano a succession of delightful melodies, with such intense expression! Her little sister was dressing her doll upon my lap. The tears came into my eyes. I leaned down, and looked intently at her wedding-ring: my tears fell — immediately she began to play that favourite, that divine, air which has so often enchanted me. I felt comfort from a recollection of the past, of those bygone days when that air was familiar to me; and then I recalled all the sorrows and the disappointments which I had since endured. I paced with hasty strides through the room, my heart became convulsed with painful emotions. At length I went up to her, and exclaimed With eagerness, “For Heaven’s sake, play that air no longer!” She stopped, and looked steadfastly at me. She then said, with a smile which sunk deep into my heart, “Werther, you are ill: your dearest food is distasteful to you. But go, I entreat you, and endeavour to compose yourself.” I tore myself away. God, thou seest my torments, and wilt end them!
Meu caro Vinicius de Moraes,
escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave:
a primavera chegou.
Você partiu antes. É a primeira primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação.
Seu nome virou placa de rua e nessa rua que tem seu nome na placa vi ontem 3 garotas de Ipanema que usavam mini-saias. Parece que a moda voltou nessa primavera. Acho que você aprovaria.
O mar anda virado. Houve uma lestada muito forte, depois veio um sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violencias primaveris.
O tempo vai passando poeta, chega a primavera nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui — a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor.
Joy Division – Love Will Tear Us Apart
When routine bites hard,
And ambitions are low,
And resentment rides high,
But emotions won’t grow,
And we’re changing our ways,
Taking different roads.
Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Why is the bedroom so cold?
Turned away on your side.
Is my timing that flawed?
Have our feelings run dry?
Yet there’s still this appeal
That we’ve kept through our lives.
But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
You cry out in your sleep,
All my failings exposed.
And there’s a taste in my mouth,
As desperation takes hold.
Yet something so good
Just can’t function no more.
But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
José Mário Branco – FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu ‘attachi-case’ sai a solução!
FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem ‘on the rocks’ do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico ‘hara-quiri’
FMI Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI …
Entretém-te filho,
entretém-te,
não desfolhes em vão este malmequer
que bem-te-quer,
mal-te-quer,
vem-te-quer,
ovomalte-quer,
messe gigantesca,
vem-te bem,
vem-te vindo,
vi-me na cozinha,
vi-me na casa-de-banho,
vi-me no Politeama,
vi-me no Águia D’ouro,
vi-me em toda a parte,
vem-te filho,
vem-te comer ao olho,
vem-te comer à mão,
olha os pombinhos pneumáticos
que te orgulham por esses cartazes fora,
olha a Música no Coração da Indira Gandi,
olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d’olho,
o respeitinho é muito lindo
e nós somos um povo de respeito, né filho?
Nós somos um povo de respeitinho muito lindo,
saímos à rua de cravo na mão
sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho?
Consolida filho,
consolida,
enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela
que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde.
Consolida filho,
consolida,
que o trabalhinho é muito lindo,
o teu trabalhinho é muito lindo,
é o mais lindo de todos,
como o astro, não é filho?
O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras,
tu tens um gozo do caraças,
vais dormir entretido, não é?
Pois claro,
ganhar forças,
ganhar forças para consolidar,
para ver se a gente consegue
num grande esforço nacional
estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho?
Pois claro!
Estás aí a olhar para mim,
estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto,
pagaste o teu bilhete,
pagaste o teu imposto de transação
e estás a pensar lá com os teus zodiacos:
Este tipo está-me a gozar,
este gajo quem é que julga que é?
Né filho?
Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente?
A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Ah!
Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho?
Onde está o teu Extremo Oriente, filho?
Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó,
tu és Sepulveda tu és Adamastor,
pois claro,
tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho?
Mal eles sabem, pois é,
tu sabes o que é gozar a vida!
Entretém-te filho,
entretém-te!
Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho,
trabalhinho,
porreirinho da Silva,
e salve-se quem puder que a vida é curta
e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus
com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three
FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI …
Come on you son of a bitch!
Come on baby a ver se me comes!
Come on Luís Vaz,
amanda-lhe com o José Cacila
que os senhores já vão ver
o que é meterem-se com uma nação de poetas!
E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares,
zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal,
zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro,
zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros,
zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer
e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano,
a estender o braço,
meio ‘Roulant’ preto,
meio Steve McQueen,
ok boss, tudo ok,
estamos numa porreira meu,
um tripe fenomenal,
proibido voltar atrás,
viva a liberdade, né filho?
Pois, irreversível,
pois claro, o irreversívelzinho,
pluralismo a dar com um pau,
nada será como dantes,
agora todos se chateiam de outra maneira, né filho?
Ora que porra,
deixa lá correr uma fila ao menos,
andas numa alta, pá,
é assim mesmo,
cada um a curtir a sua,
podia ser tão porreiro, não é?
Preocupações,
crises políticas pá?
A culpa é dos partidos pá!
Esta merda dos partidos é que divide a malta pá,
pois pá,
é só paleio pá,
o pessoal não quer é trabalhar pá!
Razão tem o Jaime Neves pá!
(Olha deixaste cair as chaves do carro!)
Pois pá!
(Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?)
É pá, deixa-te disso,
não destabilizes pá!
Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata.
Uma porra pá,
um autentico desastre o 25 de Abril,
esta confusão pá,
a malta estava sossegadinha,
a bica a 15 tostões,
a gasosa a sete e coroa…
Tá bem, essa merda da pide pá,
Tarrafais e o carágo,
mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah?
Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah?
Quem é que não se calava,
quem é que arriscava coiro e cabelo,
assim mesmo, o que se chama arriscar, ah?
Meia dúzia de líricos, pá,
meia dúzia de líricos
que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá,
isto é tudo a mesma carneirada!
Oh Sr.Guarda venha cá, á,
venha ver o que isto é, é,
o barulho que vai aqui, i,
o neto a bater na avó, ó,
deu-lhe um pontapé no cu, né filho?
Tu vais conversando,
conversando,
que ao menos agora pode-se falar,
ou já não se pode?
Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah?
Estás desiludido com as promessas de Abril, né?
As conquistas de Abril!
Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar
e tu ficaste quietinho, né filho?
E tu fizeste como o avestruz,
enfiaste a cabeça na areia,
não é nada comigo,
não é nada comigo, né?
E os da frente que se lixem…
E é por isso que a tua solução é não ver,
é não ouvir,
é não querer ver,
é não querer entender nada,
precisas de paz de consciência,
não andas aqui a brincar, né filho?
Precisas de ter razão,
precisas de atirar as culpas para cima de alguém
e atiras as culpas para os da frente,
para os do 25 de Abril,
para os do 28 de Setembro,
para os do 11 de Março,
para os do 25 de Novembro,
para os do…
que dia é hoje, ah?
FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI …
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho?
Todos temos culpas no cartório,
foi isso que te ensinaram, não é verdade?
Esta merda não anda porque a malta, pá,
a malta não quer que esta merda ande, tenho dito.
A culpa é de todos,
a culpa não é de ninguém,
não é isto verdade?
Quer isto dizer,
há culpa de todos em geral
e não há culpa de ninguém em particular!
Somos todos muita bons no fundo, né?
Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né?
Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas,
estas coisas até já nem querem dizer nada,
ismos para aqui, ismos para acolá,
as palavras é só bolinhas de sabão,
parole parole parole
e o Zé é que se lixa,
cá o pintas é sempre o mexilhão,
eu quero lá saber deste paleio
vou mas é ao futebol,
pronto,
viva o Porto,
viva o Benfica,
Lourosa, Lourosa,
Marrazes, Marrazes,
fora o arbitro,
gatuno,
qual gatuno qual caralho,
razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho?
Entretém-te filho,
com as tuas viúvas e as tuas órfãs
que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores,
entretém-te,
que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais,
entretém-te filho,
que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho,
entretém-te,
que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar,
entretém-te,
que o FMI trata da saúde ao Eanes,
entretém-te filho
e vai para a cama descansado
que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante,
enquanto tu adormeces a não pensar em nada,
milhares e milhares de tipos inteligentes
e poderosos com computadores,
redes de policia secreta,
telefones,
carros de assalto,
exércitos inteiros,
congressos universitários,
eu sei lá!
Podes estar descansado
que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter,
o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II,
tudo corre bem,
a ver quem se vai abotoar
com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas.
A ver quem vai ser capaz de convencer
de que a culpa é tua
e só tua se o teu salário perde valor todos os dias,
ou de te convencer de que a culpa é só tua
se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel
que se some nas areias em plena praia,
ali a 10 metros do mar em maré cheia
e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer:
porra, finalmente o rio desaguou!
Vão te convencer de que a culpa é tua
e tu sem culpa nenhuma,
tens tu a ver,
tens tu a ver com isso, não é filho?
Cada um que se vá safando como puder,
é mesmo assim, não é?
Tu fazes como os outros,
fazes o que tens a fazer,
votas à esquerda moderada nas sindicais,
votas no centro moderado nas deputais,
e votas na direita moderada nas presidenciais!
Que mais querem eles,
que lhes ofereças a Europa no natal?!
Era o que faltava!
É assim mesmo,
julgam que te levam de mercedes,
toma,
para safado, safado e meio, né filho?
Nem para a frente nem para trás
e eles que tratem do resto,
os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro!
Que se lixem as alternativas,
para trabalho já me chega.
Entretém-te meu anjinho,
entretém-te,
que eles são inteligentes,
eles ajudam,
eles emprestam,
eles decidem por ti,
decidem tudo por ti,
se hás-de construir barcos para a Polónia
ou cabeças de alfinete para a Suécia,
se hás-de plantar tomate para o Canada
ou eucaliptos para o Japão,
descansa que eles tratam disso,
se hás-de comer bacalhau
só nos anos bissextos
ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo!
Descansa, não penses em mais nada,
que até neste país de pelintras
se acho normal haver mãos desempregadas
e se acha inevitável haver terras por cultivar!
Descontrai baby,
come on descontrai,
arrefinfa-lhe o Bruce Lee,
arrefinfa-lhe a macrobiótica,
o biorritmo,
o horoscópio,
dois ou três ofeneologistas,
um gigante da ilha de Páscoa
e uma ‘Grace do Mónaco’
de vez em quando
para dar as boas festas às criancinhas!
Piramiza filho,
piramiza,
antes que os chatos fujam todos para o Egipto,
que assim é que tu te fazes um homenzinho
e até já pagas multa se não fores ao recenseamento.
Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá!
Dá-lhe no Travolta,
dá-lhe no disco-sound,
dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh,
J. Pimenta forever!
Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti,
não te chega para o bife?
Antes no talho do que na farmácia;
não te chega para a farmácia?
Antes na farmácia do que no tribunal;
não te chega para o tribunal?
Antes a multa do que a morte;
não te chega para o cangalheiro?
Antes para a cova
do que para não sei quem que há-de vir,
cabrões de vindouros, ah?
Sempre a merda do futuro,
e eu que me quilhe,
pois pá,
sempre a merda do futuro,
a merda do futuro, e eu ah?
Que é que eu ando aqui a fazer?
Digam lá, e eu?
José Mário Branco,
37 anos,
isto é que é uma porra,
anda aqui um gajo cheio de boas intenções,
a pregar aos peixinhos,
a arriscar o pêlo, e depois?
É só porrada e mal viver é?
O menino é mal criado,
o menino é ‘pequeno alburguês’,
o menino pertence a uma classe sem futuro histórico…
Eu sou parvo ou quê?
Quero ser feliz porra,
quero ser feliz agora,
que se foda o futuro,
que se foda o progresso,
mais vale só do que mal acompanhado,
vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa,
filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!
Deixem-me em paz porra,
deixem-me em paz e sossego,
não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho,
não há paciência,
não há paciência,
deixem-me em paz caralho,
saiam daqui,
deixem-me sozinho,
só um minuto,
vão vender jornais
e governos
e greves
e sindicatos
e policias
e generais
para o raio que vos parta!
Deixem-me sozinho,
filhos da puta,
deixem só um bocadinho,
deixem-me só para sempre,
tratem da vossa vida
que eu trato da minha, pronto,
já chega,
sossego porra,
silêncio porra,
deixem-me só,
deixem-me só,
deixem-me só,
deixem-me morrer descansado.
Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado,
eu quero lá saber do Benfica
e do bispo do Porto,
eu quero se lixe o 13 de Maio
e o 5 de Outubro
e o Melo Antunes
e a rainha de Inglaterra
e o Santiago Carrilho
e a Vera Lagoa,
deixem-me só porra,
rua,
larguem-me,
desopila o fígado,
arreda,
‘terneiro’ Satanás,
filhos da puta.
Eu quero morrer sozinho, ouviram?
Eu quero morrer,
eu quero que se foda o FMI,
eu quero lá saber do FMI,
eu quero que o FMI se foda,
eu quero lá saber que o FMI me foda a mim,
eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital,
pronto,
bardamerda o FMI,
o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões,
o FMI não existe,
o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma,
o FMI é uma finta vossa
para virem para virem para aqui com esse paleio,
rua,
desandem daqui para fora,
a culpa é vossa,
a culpa é vossa,
a culpa é vossa,
a culpa é vossa,
a culpa é vossa,
a culpa é vossa,
oh mãe,
oh mãe,
oh mãe,
oh mãe,
oh mãe,
oh mãe,
oh mãe…
Mãe, eu quero ficar sozinho…
Mãe, eu não quero pensar mais…
Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer,
ir-me embora,
sem sequer ter que me ir embora.
Mãe, por favor,
tudo menos a casa em vez de mim,
outro maldito que não sou
senão este tempo que decorre
entre fugir de me encontrar
e de me encontrar fugindo,
de quê mãe?
Diz, são coisas que se me perguntem?
Não pode haver razão para tanto sofrimento.
E se inventássemos o mar de volta,
e se inventássemos partir,
para regressar.
Partir e aí nessa viajem
ressuscitar da morte às arrecuas que me deste.
Partida para ganhar, partida de acordar,
abrir os olhos,
numa ânsia colectiva de tudo fecundar,
terra, mar, mãe…
Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto,
lembrar nota a nota o canto das sereias,
lembrar o depois do adeus,
e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal,
lembrar cada lágrima,
cada abraço,
cada morte,
cada traição,
partir aqui
com a ciência toda do passado,
partir, aqui, para ficar…
Assim mesmo,
como entrevi um dia,
a chorar de alegria,
de esperança precoce e intranquila,
o azul dos operários da Lisnave a desfilar,
gritando ódio apenas ao vazio,
exército de amor e capacetes,
assim mesmo na Praça de Londres
o soldado lhes falou:
Olá camaradas, somos trabalhadores,
eles não conseguiram fazer-nos esquecer,
aqui está a minha arma para vos servir.
Assim mesmo,
por detrás das colinas onde o verde está à espera
se levantam antiquíssimos rumores,
as festas e os suores,
os bombos de lava-colhos,
assim mesmo senti um dia,
a chorar de alegria,
de esperança precoce e intranquila,
o bater inexorável dos corações produtores,
os tambores.
De quem é o carvalhal?
É nosso!
Assim te quero cantar,
mar antigo a que regresso.
Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei.
Neste cais eu encontrei a margem do outro lado,
Grandola Vila Morena.
Diz lá, valeu a pena a travessia?
Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe,
no fundo deste mar,
encontrareis tesouros recuperados,
de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco.
Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos,
o meu canto e a palavra,
o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo,
dos vossos antepassados que ainda não nasceram.
A minha arte é estar aqui convosco
e ser-vos alimento
e companhia na viagem para estar aqui de vez.
Sou português,
pequeno burguês de origem,
filho de professores primários,
artista de variedades,
compositor popular,
aprendiz de feiticeiro,
faltam-me dentes.
Sou o Zé Mário Branco,
37 anos, do Porto,
muito mais vivo que morto,
contai com isto de mim
para cantar e para o resto.
Coco Rosie – Gallows
I never heard of this band before. But this video is one of the most amazing music videos I have ever seen.
The meaning of the song still puzzles me and the best answer I found was by DreamMasquerade @ songmeanings.net:
I don’t know the circumstances, but it sounds to me like a group of some sort went to take a man to punish him with death for something (maybe he’s a criminal or they think he is, anyways). His daughters (or schizophrenic daughter) saw them taking him away and started screaming, and the people found out they were his daughters so they shot them. the talk about the tree is I think just their ghosts remaining in the trees (maybe they lived in a forest)
it makes me think of early america, perhaps salem, personally. something about cocorosie always says witchcraft XD
Video Director by: Emma Freeman